Resenha do
texto:
MAUSS,
Marcel. A expressão Obrigatória dos Sentimentos. (1921) cap. 4.
O capítulo analisa
os ritos orais funerários de sociedades dadas como primitivas, encontradas na região do Rio Tully, Austrália. A partir da análise dos cantos funerários,
Mauss objetiva demonstrar, para fins de generalidade sobre as manifestações
sentimentais entre os primitivos, que há um emprego obrigatório e moral que
sanciona a expressão de sentimentos de modo que os ânimos individuais
(fisiologicamente e psicologicamente) referidos à ocasião do luto, no caso,
tenham sua expressividade coordenada por dispositivos sociais (entendidos como
exteriorização ao individual), determinada pelo caráter público da cerimônia,
cuja funcionalidade responderia ao reforço dos laços de coesão. Portanto, os
sentimentos não são, ou não são apenas, vividos de forma espontânea, mas
construídos na interação social.
Como dados para sua
formulação, Mauss traz descrições acerca dos elementos orais que constituem o
ritual – gritos, berros, voceros
cantados, sessões espíritas e conversas com o morto – indicativas de que os
sentimentos e ideias ali expressos são experiências coletivas demonstrativas da
intensidade e densidade de interação do grupo. O autor ainda menciona outros
trabalhos etnográficos que servem para precisar o caráter prefixado que arrola
as designações e respectivas atitudes da expressão pública de sentimentos, a
exemplo do regramento da duração do tempo de luto, da incumbência de agentes
específicos (mulheres) como portadores do luto, estabelecendo quem e por quanto tempo há de se chorar, cantar e
gritar.
Nas últimas páginas
do capítulo, Mauss sintetiza sua tese. Sua síntese propõe, então, duas
assertivas elementares para a sua formulação: a interação entre as dimensões morais
(contingência social) e “instintivas” (quando alude à associação do natural ao
violento, à dimensão desregrada da conduta) produz o espaço no qual os
sentimentos são expressos e, segundo, não há uma relação do conteúdo moral
sobre a expressão de exclusão para com os sentimentos, mas estes, quando
vivenciados em situação de interação, precisam ser revestidos por formas
compartilhadas de expressividade, precisam ser convertidos em linguagem.
Por Taís Vidal