O que é Sociologia das Emoções?


A Sociologia das emoções se constituiu como uma sub-área da disciplina sociologia nos anos 90 do século passado como fruto de um processo iniciado nos Estados Unidos quase duas décadas antes . Herdeiros de duas escolas sociológicas distintas, a Funcionalista (Talcott Parsons) e a Interacionista Simbólica (George Herbet Mead, Herbert Blumer, Erving Goffman) os sociólogos norte-americanos (Randall Collins, Theodore Kemper, Jonathan Turner, Norma Denzin, Arlie Hochschild, Susan Shott, Steven Gordon e Thomas Scheff),  desenvolvem, à partir das suas respectivas filiações,  teorias sociológicas alternativas, e, até certo ponto, conflitantes, para emoções.
As tensões conceituais e metodológicas entre tais proposições envolvem questões sociológicas fundamentais, cuja origem remota aos debates travados entre os pragmatistas William James, John Dewey e George Herbert Mead: O que é emoção? Como estudá-la? Essas questões se desdobram em várias outras: Emoção é um fenômeno sociológico? As emoções são sócio-cultural ou biologicamente determinadas? Ou, as emoções são inatas e universais ou são culturalmente específicas? Qual a influência do social sobre a forma de sentir e de expressar as emoções? Ou, qual e como os sentimentos influenciam os comportamento e atitudes dos indivíduos? Os referencias teóricos da disciplina central se aplicam ao estudo das emoções ou são necessários conceitos específicos?  É possível estabelecer relações entre emoções e macro estrutura?
As respostas a essas questões que dizem respeito a definição do conceito sociológico de podem ser agrupadas, mais amplamente, em torno de duas posições, uma  “universalista” e “biossocial” e a outra “construcionista” e “sóciocultural”.  
Para a posição “universalista” as emoções são inatas e estão pré-fixadas no organismo humano. Pressupondo haver uma correspondência entre as emoções e certas substâncias características produzidas pelo cérebro, concluem que as emoções humanas, independente da sua manifestação/expressão concreta nos diferentes indivíduos ou sociedades, são invariáveis. Os adeptos dessa posição propõem uma que a sociologia das emoções deve procurar as causas (sociais, psicológicas, fisiológicas) das emoções para explicá-las; deve utilizar-se do método quantitativo; deve ser capaz de prever as emoções e de formular “leis” gerais aplicáveis ao estudo do fenômeno. Seus adeptos geralmente dedicam-se a discussão teórico-metodológica.  
No extremo oposto, “construcionistas” admitem que as emoções possuam um substrato biológico, mas negam que as emoções possam ser automaticamente definidas pelas sensações corporais; em vez disso, a definição da emoção depende da interpretação das sensações pela pessoa. Decore daí que as emoções são diversas e plurais variando de uma sociedade para outra, e variando no interior de uma mesma sociedade ou cultura, a depender da classe, do gênero, etc.  Como defendem que as emoções são construções da cultura para os partidários dessa posição o que importa é perceber como se dá o processo de “socialização emocional” das pessoas, as “regras” e os “vocabulários” que, naquela cultura, sancionam os sentimentos e definem as formas de expressão desejáveis para o sentir. Via de regra, privilegiam o uso de dados qualitativos e os estudos micros.
Assim, enquanto os primeiros voltam o seu olhar para os aspectos da emoção que são  comuns à espécie humana, o que é verdadeiramente “sentido”, independente da sua manifestação concreta, nas diferentes sociedade, os segundos se interessam pelo que as pessoas de diferentes sociedades ou grupos pensam sobre o que sentem e o que elas fazem (como lidam) com tais  sentimentos.
À medida que a sociologia das emoções se afirma como uma área específica de estudos, e se torna conhecida para além das fronteiras norte-americanas, as discussões teóricas e metodológicas que animaram o debate nos anos 70 e 80 perdem espaço no interesse dos pesquisadores. Mas, a superação das dicotomias (entre sensação e cognição) e dos reducionismos – da emoção a uma expressão  corporal, fisiológica ou, no outro extremo, sem calor, reflexiva, e desprovida de sensações - estão longe de serem superados.
Os sociólogos norte-americanos mostraram que emoções é um fenômeno sociológico. O estudo sociológico de emoções pode contribuir com a psicologia, a biologia e a neurociência  para produzir uma compreensão mais rica e multifacetada do fenômeno. Emoções podem (e devem) ser sociologicamente estudadas e a partir de diferentes referenciais teóricos da Disciplina. O estudo de emoções permite explicar/compreender os mecanismos e estratégias emocionais, individuais e grupais, que contribuem para produção, manutenção  e reprodução da “ordem”. E, inversamente, para compreensão da recusa deliberada e dos comportamentos desviantes que negam uma a atual para produzir uma nova ou renovada sociedade. A sociologia das emoções oferece à disciplina geral, maneiras novas e criativas de como ligar indivíduo/personalidade e estrutura/sociedade, a relacionar micro e macro dimensões, a partir das interações face a face e alcançar as interações coletivas (entre grupos, instituições e sociedades).
Por tudo isso, as emoções conquistaram o seu lugar na sociologia, lugar que não lhe foi negado por Comte, Durkheim, Simmel, Mauss, Goffman, Elias, Sennet e tantos outros, clássicos e contemporâneos, embora ainda seja ignorada pela maioria dos colegas sociólogos atuais.

Marieze Rosa Torres