quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Emoções "Indignadas": comentários a Zygmunt Bauman

O professor Bauman concedeu uma  entrevista ao jornalista Vicente Verdú, do El País na qual faz associações entre emoções fulgazes, transitórias, ou líquidas, no jargão do ilustre intelectual, e o movimento dos indignados http://www.outraspalavras.net/2011/10/18/das-emocoes-a-um-novo-movimento/ me arvoro aqui a tecer algumas considerações.
Se as emoções são, por definição, passsageiras, flúidas, ou “líquidas”, com bem coloca o professor, elas se transformam, no contexto das relações sociais, em sentimentos, e os sentimentos são, também, por definição, duradouros. No caso do movimento em questão o sentimento prevalecente é a indignação. Pergunto-me, se a emoção não constrói, como é afirmado, aonde nos levam a individualidade exacerbada, o hedonismo, e o sentimento de indiferença, prevalecentes em nossas sociedades? Ora, se é verdade que o movimento dos indignados pode ser visto como sem sustentação por lhe faltar uma proposta unificada, uma organização, uma liderança, eu me pergunto: será que as nossas referências não estão baseadas em um modelo ultrapassado? Finalista? Não podemos dizer que o movimento de mulheres ou o movimento ambientalista tenham mudado o mundo, mas seguramente ocorreram mudanças importantes.


Acredito que o estresse e a depressão ressultam de emoções experimentadas pelo 'eu' que são sistematicamente ignoradas e contidas, não sendo expressas elas se voltam contra a própria pessoa. Esquemática e simplificadamente, para limitar-me ao assunto em pauta, eu diria que o medo, longe de ser uma emoção temporária,  é uma emoção que está impregnada no cotidiano do dia a dia de todos aqueles que dependem de emprego para garantir a sua subsistência: medo de ficar desempregado, medo de nem chegar a ser um empregado. A raiva e a indignação, naturais diante de situações de desrespeito ou de injustiça, são, no âmbito profissional, reprimidas. Sob o emprego conquistado paira a nuvem escura e ameacadora do desemprego, e, para matê-lo o 'eu' paga um alto preço, sacrifica o que tem mais visceral, as suas emoções! A  Raiva sufocada   se disfarça sob a ropagem das emoções da  culpa e da vergonha e consomem o “eu”; por não ser o que se espera dele, por não ser um “sucesso”, por não conquistar e nem proporcionar melhores condições de vida para si e para os seus. A contenção sistemática dessas emoções estão na raiz de sentimentos contraditórios como o do sofrimento que se expressa no estresse e na depressão e, que tem como contraponto o de indiferença ou de apatia. Indiferença ou apatia, que são sentimentos construídos pelo “eu” através de enorme esforço pessoal e de permanente vigilância para ignorar as emoções experimentadas e evitar o sofrimento. E o faz de tal forma e com tal competência que estes sentimentos de indiferença e apatia tornam-se incorporadas como hábito prevalecendo no seu contato com o outro, criando uma barreira que garante ao “eu” a imunidade contra o sofrimento ou a sua possibilidade real ou projetada ou imaginada.


Por tudo isso é que considero, a propósito do texto apresentado pelo jornalista da entrevista de Bauman, que as emoções são fundamentais tanto para construção quanto para a desagregação social, ainda que a construção possa não trilhar os caminhos “ortodoxos” ou já conhecidos.

Marieze Rosa Torres

Salvador, 26/10/2011

No response to “Emoções "Indignadas": comentários a Zygmunt Bauman”

Leave a Reply